Segurança admite para pai de santo que Rogério Andrade é seu ‘patrão’

PM reformado pode ter encomendado a morte do contraventor Fernando Iggnácio/Reprodução

Uma interceptação telefônica da Delegacia de Homicídios da Capital (DH), obtida com autorização da Justiça revela a subordinação do policial militar reformado Marcio Araújo de Souza ao contraventor Rogério Andrade.

Na ligação feita do telefone de seu segurança, Fábio Romualdo, Araújo se refere ao bicheiro como “01” e “Patrão”, o que levou a Polícia Civil a concluir que a execução de Fernando de Miranda Iggnácio, em 10 de novembro do ano passado, não ocorreria sem o consentimento dele. Ambos tiveram a prisão preventiva decretada pelo crime e seguem foragidos.

De acordo com reportagem do jornal o Extra, o PM conta ao religioso que o depoimento que prestara na especializada, no dia 2 de fevereiro, sobre o caso se deu de forma “tranquila”. O militar reformado relata ter negado aos investigadores trabalhar para Rogério. “Foi tudo certo, não fizeram pressão. Me fizeram uma pergunta se eu conhecia meu 01 e eu disse que não. Mas, no final, eles me mostraram um vídeo de 2017 que mostra eu tirando o cara do hospital”, diz o PM. Ele se referiu a imagens do circuito interno de um hospital particular, na Barra da Tijuca, de 2017, que o flagrou fazendo a escolta do contraventor, quando sua mulher, após ser baleada — num suposto atentado, segundo Andrade — foi atendida na unidade de saúde.

Na conversa, o pai de santo indaga: “O 01 é o patrão?” E Márcio afirma: “É.” Então, ele é provocado pelo religioso: “Mas você podia ter falado que conhecia, eles sabem…” O PM explica: “Não, meu padrinho. Eu estava com instrução para não. Porque, o que acontece, se tiver algum problema, eu estou totalmente ligado a ele.”
O pai de santo conta a Márcio que está com uma vela acesa e “na oração”. Ele diz ainda que se trata de “fogo a amigo” e que “o safado que está perturbando” o militar. No final do diálogo, ele ainda pede que Araújo vá ao seu encontro em sua casa e que dê um presente para o “mestre”. O pai de santo também promete que deixará o segurança “bem com o chefão” e se despede: “Fica com Deus, vai descansar, vai beber uma cerveja, vai pegar uma piranha”.

Ainda segundo a reportagem, a menção à ligação consta no relatório final de investigação, coordenadas pelo titular da DH Capital, delegado Moysés Santana Gomes. De acordo com o documento, Marcio Araújo “mentiu descaradamente” em seu depoimento na especializada. Ele afirmou trabalhar como vendedor de carros e não conhecer nenhum dos autores do delito, inclusive Rogério Andrade, que disse saber quem é “apenas através da mídia”.

O relatório aponta também a localização da foto de um bilhete, tirada em 19 de novembro de 2020, na conta de e-mail de Araújo. O papel traz a mensagem: “Pinheiro disse ao porteiro para não avisar aos seguranças que estiver na salinha de dia ou de noite quando o Rogério estiver descendo ao elevador” (sic). Para os policiais, o aviso denota o vínculo profissional entre o segurança e o contraventor à época do homicídio de Fernando Iggnácio.