Professora de Belford Roxo inova criando aula dinâmica e revolucionária na rede

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A turma se concentra para realizar as atividades lúdicas, como o ‘sussurrofone’, formuladas pela professora Kelly Leão/Rafael Barreto/PMBR

Professora de 1º ao 5º ano da rede municipal de ensino de Belford Roxo, graduada em Educação Física, Kelly Sampaio Carneiro Leão, 46, tem feito a diferença e chamado atenção em suas aulas de sextas-feiras, na Escola Municipal Heliópolis. Seu jeito lúdico de ensinar caiu no gosto da turma 141, onde estudam 34 alunos do quarto ano, com idade que varia de 10 a 16 anos. Cantando, brincando e interagindo eles estão aprendendo mais e torcendo para “sextar”. “Quando o conteúdo é passado de forma prazerosa o aprendizado é mais rápido”, garante a educadora.
A faixa etária de alguns alunos inclusos naquele ano de escolaridade e ainda dificuldades percebidas para falar, escrever, assimilar e de se relacionar com os colegas foram o bastante para mudar a lição. “Muitos deles enfrentam vários problemas que vão do social até violência, desavenças em família e nos bairros onde moram. Havia muito desinteresse pelas aulas e as faltas eram frequentes”, disse a professora. Kelly conta que o primeira medida foi de buscar aproximação com os pais dos alunos. “Comecei a visitar as famílias e algumas se assustaram com a minha presença. Fui para entender o motivo da ausência na escola, conheci muitas histórias e acabei ganhando aliados, tudo que eu precisava”, conta.

Linha de transmissão pelo Whatsapp
Como se não bastasse as visitas nas casas dos alunos, Kelly criou o que ela chama de linha de transmissão com os responsáveis do estudantes. A professora conseguiu o número do telefone de todos os pais e através do aplicativo whatsapp faz contato direto com eles, informando sobre dever de casa de trocando informações sobre o desenvolvimento dos filhos na sala de aula. “Os que eu não consegui o número fui até a casa para conseguir. Mando foto do dever de casa e trabalhos que eles devem fazer. O resultado é muito bom, pois pais que trabalham, acabam tomando conhecimento e por telefone cobram as tarefas dos filhos e ninguém chega no dia seguinte sem o dever feito”, afirma.

Turma divididas em lado A e B
Kelly utiliza vários kits de objetos criativos para incrementar suas aulas que acontecem na sala e na maioria das vezes na quadra de esportes da escola. A turma é dividida em lado A e B e as brincadeiras educativas começam. Uma delas, a ‘roletrando’, um prato de papelão com todas as letras do alfabeto coladas no entorno e uma tesoura (plástico) no meio como se fosse um pêndulo. O “brinquedo é afixado no quadro e o aluno roda a roleta e a letra indicada tem que formar uma palavra e inserida numa frase. Há outras brincadeiras que estimulam o uso de substantivo, construção de textos, tabuada, entre outras matérias. A inovação viralizou na escola e Kelly sempre convida uma nova turma para compartilhar as aulas com os seus alunos. “É uma revolução na escola. Kelly tem um engajamento sensacional. Um trabalho de excelência e contagiante”, avalia a diretora da escola, Janete Moreira Furtado Guimarães.

Estímulo do marido e o brinquedo improvisado ‘Sussurrofone’
Pós-graduada em Gestão Educacional (Orientação Educacional e Pedagógica, Secretaria e Supervisão Escolar), curso de libras e de Psicomotricidade, Kelly salienta que tem um apoio especial do marido, Anderson Leão. “Ele me incentivou a fazer os cursos de especialização e ainda ajuda na confecção dos objetos que utilizo nas aulas”. Um dos brinquedos improvisado é o Sussurrofone, um dos preferidos da garotada. “Vi na internet que era feito todo em PVC. Para não ficar inviável financeiramente, conversei com o meu marido e ele criou um com pedaços de canos (joelhos) e conduítes e ficou perfeito”, disse. A novidade é uma ferramenta lúdica que permite a captação individual da voz do aluno ou seja: ele mesmo fala e ele mesmo escuta. “A turma utiliza para ter percepção da palavra que escreveu. Muito bom”, vibra ela que é mãe de duas filhas: Andressa de 22 e Ana Clara de 11 anos. “Cada escola tem sua particularidade. Todas desenvolvem trabalhos lúdicos. Mas Kelly, através da psicomotricidade consegue ir além e contribuir muito para minimizar a reprovação e manter os alunos na escola”, avalia a educadora, Simone Ramos, Chefe da Divisão do Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação.
Segundo Kelly, uma aluna de 10 anos, que deveria estar no mínimo no 5º ano, antiga quarta série, não sabia escrever o nome e tampouco a família silábica do B. Hoje a mesma menina já consegue formar frases. Riquelme Souza Cruz, 10, um dos mais tímidos da turma, disse que adora as aulas. “Eu aprendo muito e me divirto também, assegurou ele enquanto virava as tampinhas de garrafa pet para encontrar letras, coladas no fundo e formar palavras com elas, em companhia dos colegas. Pedro Lucas, 15, que quer ser jogador de futebol, não hesitou em responder quando questionado sobre a aula de sexta-feira: “Gosto pra caraca. Não falto uma”, disparou.