Presos no Jacarezinho foram obrigados pela polícia a levar corpos para caveirão

Policiais retiram um dos mortos na operação/Ricardo Moraes/Reuters

Familiares e amigos fazem protesto na favela/Domingos Peixoto / Agência O Globo

Na noite do último sábado, quatro dos seis presos na Operação do Jacarezinho, na última quinta-feira, foram ouvidos em audiência de custódia. Eles revelaram que foram obrigados “a carregar corpos para o caveirão“.

Segundo a coordenadora do Núcleo de Audiências de Custódia da Defensoria Pública, Mariana Castro, os acusados afirmaram que nenhum deles estava vivo, o que comprova que a cena de crime foi desfeita. Ela contou também que os presos relataram que foram agredidos com socos e chutes e que só não morreram porque foram detidos na presença de familiares. A Justiça manteve a prisão dos seis suspeitos.

“O fato de carregarem corpos para o caveirão configura tortura psicólógica. Não consta que nenhum dos presos ouvidos portava arma. Dos quatro defendidos pela Defensoria Pública, três tinham mandados de prisão contra eles. Em alguns casos, a polícia informou que havia entorpecentes em seu poder, no entanto, o material não foi lacrado, como determina a lei. Houve uma quebra na cadeia de custódia“, argumenta a defensora pública Mariana Castro.

Segundo ela, os próprios peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) deixaram claro em seus laudos que não havia lacre no material. “Foram entregues sacos plásticos com entorpecentes sem qualquer tipo de identificação e sem lacres. Outra coisa que chamou atenção foi que, no momento do exame de corpo de delito, policiais que efetuaram as prisões não saíram da sala, o que fez com que eles não contassem os detalhes sobre as agressões“.

A Defensoria Pública vai definir qual a estratégia de defesa que irá adotar. “Na minha carreira nunca vi tantas violações de direitos humanos de grau tão elevado. Os presos fizeram relatos de horror“.