Prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella é preso em operação da polícia e Ministério Público

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Preso, Marcelo Crivella é conduzido por policiais na Cidade da Polícia. Depois, já à noite chega no presídio de Benfica, na Zona Norte do Rio/Reprodução/Agência O Globo

Prefeito do Rio foi afastado do mandato por suspeita de corrupção. Investigação aponta existência de ‘QG da Propina’ na prefeitura.

O Tribunal de Justiça do Rio confirmou na tarde de ontem a prisão do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) e outros presos numa operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio (MP-RJ). Todos foram ouvidos na audiência de custódia e levados para o presídio de Benfica, na Zona Norte, num comboio de seis carros.

A Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) decidirá para qual unidade os presos serão levados, levando em conta quem tem nível superior. Crivella é engenheiro.
A legalidade do procedimento de prisão do prefeito numa operação da polícia e do MP foi avaliada, conforme determinou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin. Ao ser ouvido, o prefeito afirmou que não houve excessos durante o cumprimento do mandado de prisão.

De acordo com o TJRJ, as audiências de Adenor Gonçalves e do delegado Fernando Moraes (com suspeita de Covid-19 – foram adiadas para hoje , e serão feitas por videoconferência. Enquanto isso, serão levados para o Hospital Penitenciário. Os outros presos na operação: Rafael Alves, empresário apontado como operador do esquema; Mauro Macedo, ex-tesoureiro da campanha de Crivella; e Cristiano Stockler Campos, empresário. O ex-senador Eduardo Lopes também é alvo da operação, porém não foi encontrado em casa.

“A prisão se revela espalhatosa e desnecessária. A defesa confia na pronta reparação desta violência jurídica”, disse João Francisco Neto, advogado de Rafael Alves.

‘QG da Propina’
A ação é um desdobramento da Operação Hades, que investiga um esquema de corrupção em um suposto “QG da propina” na prefeitura do Rio. A investigação aponta que Crivella trocou quase 2 mil mensagens com o empresário Rafael Alves, que não tinha cargo na gestão. Entretanto, afirma o MP-RJ, exercia forte influência sobre o prefeito e facilitava contratações em troca de propina.

Em entrevista a emissoras de TV após a prisão, Crivella ressaltou ter lutado contra a corrupção na cidade. “Lutei contra o pedágio ilegal, tirei recursos do carnaval, negociei o VLT, fui o governo que mais atuou contra a corrupção no Rio de Janeiro”, disse. Ao ser questionado sobre sua expectativa a partir de agora, o prefeito se restringiu a responder: “justiça”.

Com a prisão de Crivella, quem assume a prefeitura é o presidente da Câmara de Vereadores, Jorge Felipe (DEM), já que o vice-prefeito da cidade, Fernando McDowell, morreu em maio de 2018.

Esquema de fechamento de contratos
As investigações mostram ainda que empresas que tinham interesse em fechar contratos ou tinham dinheiro para receber do município entregariam cheques a Rafael Alves, irmão de Marcelo Alves, então presidente da Riotur. Em troca, Rafael facilitaria a assinatura dos contratos e o pagamento das dívidas.

Uma das buscas realizada pela polícia foi feita no Porto do Frade, em Angra dos Reis, no Sul Fluminense, para apreender uma lancha de 77 pés que pertence a Rafael Alves.
Os mandados são cumpridos pela Coordenadoria de Investigação de Agentes com Foro (CIAF) da Polícia Civil e do Grupo de Atribuição Originária Criminal da Procuradoria-Geral de Justiça (Gaocrim), do MP-RJ. A decisão é da desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita.

Propinas chegaram a R$ 50 milhões, diz MP
Promotores do Ministério Público informaram durante entrevista coletiva que Prefeitura do Rio fazia pagamentos a empresas por conta da propina mesmo ‘em situação de penúria’ e que o valor arrecadado pela organização criminosa chega a R$ 50 milhões.
“A organização criminosa arrecadou dos empresários pelo menos R$ 50 milhões, foi o que conseguimos apurar. Agora, quanto foi para cada um, aí realmente é algo que não temos essa previsão”, disse o subprocurador-geral Ricardo Ribeiro Martins.

O subprocurador-geral afirmou ainda que há indícios de que a “organização criminosa não se esgotaria” ao fim do mandato e, por isso, houve o pedido de prisão. “Apesar de toda a situação de penúria (da Prefeitura), que não tem dinheiro nem para o pagamento do décimo terceiro, muitos pagamentos eram feitos em razão por conta da propina”, disse ele.

Martins disse ainda que o valor está sendo pedido pelo MPRJ em indenização à prefeitura. De acordo com ele, além do crime de organização criminosa, e da lavagem de dinheiro, o esquema praticava corrupção ativa por parte de empresários e a corrupção passiva com os políticos. “Foram em diversas ocasiões com os pagamentos mensais”, indicou em coletiva no MPRJ.

Martins informou que a denúncia de 280 páginas não foi apresentada antes porque estava incompleta. As investigações continuaram e “aos 45 do segundo tempo” surgiu um a colaboração fundamental com informações relevantes que permitiram a apresentação com os sete pedidos de prisão temporária, entre elas a do prefeito do Rio, Marcelo Crivella.

No apagar das luzes do mandato
A desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita, que deu a ordem de prisão, determinou o afastamento de Crivella a 9 dias do fim do mandato. O presidente da Câmara dos Vereadores, Jorge Felippe (DEM), assume a prefeiturao do Rio até o dia 31 de dezembro. O vice-prefeito, Fernando Mac Dowell, morreu em maio de 2018.

 

Fonte: G1.