Polícia apreendeu relatório sobre operação no Jacarezinho em casa onde cinco suspeitos morreram

Policiais civis durante a operação no Jacarezinho/Reprodução

Policiais retiram barricada montada pelos traficantes em um dos acessos ao Jacarezinho/Reprodução

A Polícia Civil informou ter apreendido, durante a operação com 25 mortos no Jacarezinho, nesta quinta-feira, um relatório com detalhes sobre a ação. Segundo a corporação, o documento, que levava o timbre do Ministério Público do Rio (MP-RJ), foi encontrado dentro de uma casa onde cinco suspeitos foram baleados e não resistiram. O local funcionava, de acordo com as investigações, como um esconderijo para chefes do tráfico de drogas que atuam na comunidade. A informação sobre os documentos apreendidos foi publicada pelo portal “Metrópoles”.

O material encontrado dentro da casa pode indicar, na avaliação da polícia, um possível vazamento de informações sobre a operação, que se tornou a mais letal da História do estado do Rio. Entre os 25 mortos, está um policial civil lotado na Delegacia de Combate às Drogas (DCOD), que foi baleado na cabeça.

O desfecho da operação rendeu questionamentos por parte de especialistas e alertas de entidades ligadas aos direitos humanos. Ex-secretário nacional de Segurança Pública, o coronel reformado da PM José Vicente da Silva Filho criticou o planejamento e disse que não foram levados em consideração o potencial de reação dos bandidos e a segurança da população.

“Não importa que (os mortos) sejam bandidos ou não. Nesse caso, morreu um policial. É uma operação mal planejada. Nunca vi em nenhum lugar uma operação com tamanha quantidade de mortos; me parece uma operação lá no Afeganistão”, afirmou o coronel.

A Human Rights Watch do Brasil pediu que o MP-RJ faça uma investigação minuciosa e independente para apurar o que de fato aconteceu na comunidade. A entidade observou que, apenas no primeiro trimestre deste ano, a polícia do Rio matou 453 pessoas, e ao menos quatro policiais morreram em confrontos – um número que não condiz com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou que, em meio à pandemia, as incursões só ocorressem em casos excepcionais. A Defensoria Pública, por sua vez, afirmou que constatou flagrantes descumprimentos dos direitos humanos, que já está colhendo depoimentos de moradores da comunidade e que vai levar o caso ao conhecimento do Supremo.

“A população pode ficar tranquila que a investigação será realizada com todos os critérios. Se for constatado abuso, será instaurado um inquérito criminal”, disse o procurador-geral do Rio, Luciano Mattos.

Pesquisador de segurança pública da UFRJ, Michel Misse observou que, além de contrariar a decisão do STF, a Polícia Civil está sendo acusada por moradores de ter executado suspeitos que teriam se rendido.

“A operação em si mesma é inadequada, nas condições de pandemia e em desrespeito à decisão do Supremo Tribunal Federal. Além do mais, uma operação em que morrem 25 pessoas, entre elas um policial, não pode ser considerada bem-sucedida. Uma operação bem-sucedida é a que você prende os suspeitos, os leva a julgamento e esclarece a ocorrência. Nesse caso, não houve nada disso. Só há mortos”, criticou.