Orlando Drummond, intérprete do seu Peru, morre aos 101 anos

Ator e humorista dublou e interpretou personagens hilários que estão na memória de milhões de brasileiros, como Scooby-Doo, entre outros/Reprodução

Ator Orlando Drummond recebe a segunda dose da vacina no Rio — Foto: Divulgação/SMS

Orgulhoso, ator exibe o livro “Orlando Drummond, Versão Brasileira”, biografia escrita pelo jornalista Victor Gagliardo e lançada em 2020/Reprodução

O ator, humorista e dublador Orlando Drummond, de 101 anos, morreu no Rio nesta terça-feira (27). O artista ficou famoso ao interpretar o personagem Seu Peru, na “Escolinha do Professor Raimundo”, e ao dublar personagens icônicos como Scooby-Doo e Popeye.

Internação
Orlando esteve internado em maio para se tratar de uma infecção urinária no Hospital Quinta D’Dor, na Zona Norte. A família começou o tratamento em casa, mas o quadro se agravou, e o ator chegou a ficar na unidade semi-intensiva. Ele recebeu alta no dia 12 de junho.

Drummond foi um dos primeiros vacinados contra a Covid no Rio no Palácio da Cidade em janeiro deste ano. Em fevereiro, o ator recebeu a segunda dose da vacina em casa.

Dublagens inesquecíveis
Orlando Drummond não foi só uma das figuras mais marcantes da TV do Brasil. Mesmo quando não aparecia, sua voz deixou memórias da infância de milhões de brasileiros.

Ele deu voz a personagens inesquecíveis ao longo da carreira: Scooby Doo, Alf, “o ETeimoso”, o marinheiro Popeye e o Vingador da “Caverna do Dragão”.

Ele começou no rádio, e foi a experiência por lá que moldou sua carreira e deu o tom do trabalho com as vozes.

À Globonews em 2011, ele explicou o processo de criação das vozes de tantos personagens. “Alf e Popeye, eu me inspirei no original. A do Scooby Doo eu criei, foi um processo muito divertido”, lembrou.

O artista ganhou o papel do cachorro da turma que desvenda mistérios repetindo um latido que tinha espantado um ladrão.

Como surgiu ‘Seu Peru’
Essa e outras histórias constam de “Orlando Drummond, Versão Brasileira”, biografia escrita pelo jornalista Victor Gagliardo e lançada em 2020. O autor contou como foi o convite e o processo para o artista viver Seu Peru.

“O Chico Anysio falou pra Cininha de Paula: ‘Chama o Drummond que ele resolve’. Aí, o Drummond pegou o personagem. Tanto que o personagem já tinha um bordão que o próprio Chico criou que era o ‘estou porraqui’. E aí, o Drummond pegou o personagem para si, como se fosse dele mesmo, e criou tantos outros bordões. Como: ‘Peru com mel, de Vila Isabel’, ‘te dou o maiorrapoio’”, contou.

O amor da vida de Orlando Drummond, Glória, de 86 anos, mereceu um capítulo especial do livro. “Muito amor, muita compreensão… Ele sempre foi uma pessoa calma, carinhosa, não tinha motivos para ter uma vida ruim”, disse Glória Drummond.

A lua de mel, em 1951, foi na Ilha de Paquetá, e o pai da noiva exigiu que o irmão dela fosse junto com o casal, mas nada que atrapalhasse. A parceria do casal durou 69 anos. O ator e dublador deixa a esposa e dois filhos, Orlando Lima Cardoso e Lenita Helena Drummond. Além de cinco netos (Marco Aurélio Asseff, Michel Asseff Filho e os dubladores Felipe Drummond, Alexandre Drummond, Eduardo Drummond) e três bisnetos, Miguel, Mariah e Malu.

Sucesso na televisão
Consagrado como dublador, Orlando Drummond passou a ter o rosto mais conhecido do público através de Seu Peru.

“Antes eu era do rádio e da televisão, mas eu não tinha cara. A minha cara era a dos personagens, como o Scooby Doo, o Popeye, o Alf. Quando eu passei a fazer o Seu Peru, as pessoas começaram a falar: ‘É o Seu Peru que faz o Scooby Doo, o Popeye’ e outros tantos personagens que enumerá-los é até difícil.”

Homenagem emocionante do amigo Marcos Caruso
Drummond foi homenageado pelos atores da nova versão da “Escolinha” há dois anos e causou comoção no set de filmagens. Atual intérprete do Seu Peru, Marcos Caruso não segurou a emoção.

Morte confirmada
Um dos filhos do ator, Orlando Lima Cardoso, confirmou a morte a Quem. “A gente estava preferindo que isso ocorresse porque meu pai estava sofrendo muito, estava piorando, respondendo cada vez menos. De sábado para cá, ele não se alimentava, nem respondia mais ninguém. Quando ele teve alta do Quinta D’Or, ele veio para casa reconhecendo todo mundo, interagindo, falando, comendo. Mas de uns dias para cá isso começou a mudar e no sábado ele começou a apagar, já não reconhecia mais ninguém, não interagia e parou de comer. Estava só no soro. Estamos aqui ao redor da minha mãe, eu, minha irmã, meu cunhado. Meu filho e meu sobrinho estão viajando e tentando antecipar o voo para o Rio. A família está toda reunida”.