Negligência para casos de Covid-19 em Nova Iguaçu transforma secretário municipal de saúde no ‘mensageiro da morte’

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A UPA Carlinhos da Tinguá em Miguel Couto. E o secretário municipal de Saúde, Manoel Barreto, que pode ser responsabilizado por negligência/Reprodução

Resultado do exame feito por paciente em clínica particular: positivo para Covid-19/Reprodução

Pacientes com sintomas de Covid-19 procuram atendimento em unidades de Nova Iguaçu e são liberadas sem um protocolo de tratamento definido. Em um dos casos, paciente morreu por falha no diagnóstico.

Em meio à grave crise sanitária enfrentada pelo Brasil por causa da pandemia provocada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2), a população enfrenta um outro inimigo: a incerteza de um diagnóstico preciso e o caos na rede de saúde pública. O Ministério da Saúde orienta que todo brasileiro que começar a manifestar sintomas como tosse, espirro, coriza, dor de cabeça, febre baixa e alterações intestinais, que sugerem a presença do vírus, deve procurar atendimento médico.

Mas em Nova Iguaçu, pacientes com esse sintomas não se sentem seguros ao buscar atendimento na rede pública do município. O motivo é a falta de um protocolo de tratamento bem definido verificado em pelo menos duas unidades de saúde. Dos cinco casos apurados pela reportagem do Hora H, houve um óbito em decorrência da falha no diagnóstico. Outros quatro pacientes procuraram atendimento em hospitais da rede privada e testaram positivo para a Covid.

Uma das pacientes é a cozinheira Elizabete da Conceição Rosa, de 49 anos. Na semana passada, por duas vezes ela buscou atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Carlinhos da Tinguá de Miguel Couto. Estava com todos os sintomas do vírus, mas só aplicaram injeção e a liberaram para casa.

No último sábado, como os sintomas persistiam, familiares a levaram para a Dimagem – Diagnóstico por imagem. Na clínica conveniada com a Prefeitura de Belford Roxo, Elizabete foi submetida a uma tomografia computadorizada de tórax. No resultado do exame, o diagnóstico: “O conjunto dos achados sugere alterações infecciosas de etiologia viral (Covid-1)”, com 25% dos pulmões comprometidos. A paciente foi internada no Hospital Municipal de Belford Roxo e recebeu alta para seguir com o tratamento em casa.

Morte após ser liberado para casa
Infelizmente, Francisco de Assis Cordeiro Reis não teve a mesma sorte e faleceu na última sexta-feira. Integrante do grupo com maior risco de desenvolver a forma mais grave da Covid-19 por ter diabetes, ele faleceu depois de procurar atendimento na UPA de Botafogo.

Segundo relatos de familiares, Francisco chegou à unidade com nível de saturação de oxigênio abaixo de 83% (quando o considerado normal é 95% para a maioria das pessoas saudáveis).

“O médico disse que ele estava apenas com o nível de glicemia baixo por causa da diabetes. Medicaram com uma injeção e o mandaram pra casa. Houve uma piora no quadro e quando o levamos a uma clínica particular, ele não resistiu. É muito triste o que aconteceu. A equipe da UPA cometeu uma falha grave. Porque não foi feito o teste de Covid? Estamos sem entender até agora. Houve negligência e alguém precisa ser responsabilizado por esse crime”, desabafa uma sobrinha de Francisco, que pediu para não ser identificada.

Na mesma família do paciente há outro caso de falha no diagnóstico envolvendo a UPA de Botafogo. Felizmente, o parente procurou atendimento fora do município e recebeu tratamento adequado para combater o vírus.

População aponta incompetência na gestão do secretário de Saúde

A falta de um protocolo preciso para o diagnóstico de Covid-19 revela o quadro grave verificado em algumas unidades de saúde de Nova Iguaçu. O problema coloca na guilhotina o pescoço do secretário da pasta, Manoel Barreto de Souza Leite, que tem sido chamado de incompetente para gerir e monitorar o atendimento na rede, principalmente para os casos de coronavírus.

A reportagem ouviu pacientes que aguardavam atendimento nas duas unidades de saúde. Os relatos revelam uma triste realidade no município. Agravada pela crise sanitária, traduzem uma situação de caos e despreparo, elevando o nível de alerta para as autoridades de saúde adotarem, com a máxima urgência, medidas para encontrar uma solução para o problema e frear um possível descontrole no número de óbitos.

Os casos revelados nesta reportagem serão denunciados pelas famílias ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), que tem a atribuição de investigar as falhas no atendimento e de negligência.