MP denuncia 5 PMs por alterarem a cena do crime na morte de Kathlen na Zona Norte do Rio

Kathlen morreu por hemorragia interna, provocada pelos ferimentos causados pelo tiro de fuzil

Kathlen com os pais Luciano Gonçalves e Jaqueline de Oliveira/Reprodução/Redes sociais

Cinco policiais militares foram denunciados nesta segunda-feira (13) pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) por alterarem a cena no local onde a jovem Kathlen de Oliveira Romeu foi morta, no dia 8 de junho, no Complexo do Lins, Zona Norte do Rio.

A 2ª Promotoria de Justiça junto à Auditoria da Justiça Militar denunciou o capitão da PM Jeanderson Corrêa Sodré, o 3°sargento Rafael Chaves de Oliveira e os cabos da PM Rodrigo Correia de Frias, Cláudio da Silva Scanfela e Marcos da Silva Salviano.

Resumo das acusações:

Os PMs Cláudio da Silva Scanfela, Marcos da Silva Salviano, Rafael Chaves de Oliveira e Rodrigo Correia de Frias foram denunciados por duas fraudes processuais e por dois crimes de falso testemunho.

E o capitão Jeanderson Corrêa Sodré foi denunciado por fraude processual na forma omissiva.
De acordo com a denúncia, os PMs Chaves, Frias, Scanfela e Salviano retiraram o material que estava no local antes da chegada da perícia, e ainda acrescentaram 12 cartuchos calibre 9 milímetros deflagrados e um carregador de fuzil 556, com 10 munições intactas. Mais tarde, o material foi apresentado pelos policiais na 26ª Delegacia de Polícia (Todos os Santos).

Também segundo o documento, Jeanderson Corrêa Sodré, mesmo estando no local e podendo agir como superior dos PMs, se omitiu da função que, por lei, deveria cumprir, que seria fazer a “vigilância sobre as ações de seus comandados”.

“Enquanto deveriam preservar o local de homicídio, aguardando a chegada da equipe de peritos da Polícia Civil (PCERJ), os denunciados Frias, Salviano, Scanfela e Chaves o alteraram fraudulentamente, realizando as condutas acima descritas, com a intenção de criar vestígios de suposto confronto com criminosos”, diz trecho da denúncia.

Perito viu ‘movimentação anormal’
Na semana passada, o jornalismo da TV Globo mostrou que um vídeo gravado após a morte de Kathlen registrou uma movimentação anormal dos PMs no momento em que a jovem, que estava grávida, foi baleada.

O perito e professor da Universidade do Estado do RJ, Nelson Massini, afirmou que as imagens mostram que os policiais estavam mais preocupados em recolher objetos no chão do que prestar socorro à jovem ferida.

“(O vídeo) É revelador porque mostra uma movimentação anormal dos policiais. Dá pra se verificar quantos estavam no beco e uma movimentação mais preocupada em recolher o material do que a Kathlen”, analisou o perito.

As imagens do vídeo foram gravadas instantes depois dos tiros. É possível ver que um policial sobe o beco e outros três ficam na saída, de frente para a Rua Araújo Leitão. Kathlen não aparece nas imagens. Naquele momento, ela já estava caída na calçada, do outro lado da rua.

O vídeo também mostra que dois PMs vão em direção à Araújo Leitão, outro sobe o beco, e mais um aparece correndo. Um dos policiais volta e se agacha. Em seguida, outro PM também entra no beco e faz um movimento parecido. Logo depois, a avó de Kathlen percebe que a neta foi atingida e começa a gritar.

Na sequência da gravação, outros dois policiais aparecem descendo o beco e depois mais um. Os três saem na direção contraria de onde está Kathlen Romeu.

Em outro vídeo gravado no mesmo local, é possível ver alguns policiais voltando para o beco e se abaixando como se recolhessem algo no chão.

“A tendência dos traficantes seria fugir por essas escadas e cair fora. E os tiros do policial só poderiam ser contra os traficantes que estariam fugindo. (…) Se ele atirasse, viraria de costas para dar o tiro. No entanto, só tem esse tiro que veio na direção contrária”, completou Massini.

Sem vestígio de bala no local
Na época da morte da jovem, a Polícia Civil informou os agentes da Delegacia de Homicídios que chegaram ao local para fazer a perícia não encontraram vestígios de balas no local.

Policiais civis afirmaram que os PMs levaram para a delegacia a munição e os estojos deflagrados durante a ação na favela.

Os 12 policiais que estavam no local no dia da morte de Kathlen foram afastados dos trabalhos na rua. Com eles, foram apreendidos 12 fuzis e nove pistolas.

A bala que atingiu Kathlen não ficou alojada no corpo da jovem e, por isso, não foi possível fazer o confronto balístico para determinar de que arma partiu o tiro.

Kathlen morreu por hemorragia interna, provocada pelos ferimentos causados pelo tiro de fuzil.
Informações do g1