Moradores acusam policial de balear homem na Cidade de Deus

Morto na CDD

Moradores fecharam a via expressa em protesto contra a ação dos policiais. A mãe e a mulher de Marcelo estão inconsoláveis: “Ele não era bandido”. Várias pessoas acompanharam a retirada do corpo de Marcelo. A PM observa a manifestação/Reprodução 

“Foram os policiais que tiraram a vida do meu marido. Isso eu sei porque não teve confronto na Cidade de Deus. Infelizmente eu cheguei lá e meu marido estava no chão”. O desabafo emocionado de Carla contradiz a versão da Polícia Militar de que teria havido um confronto. O caso aconteceu na manhã de ontem, na Rua Edgard Werneck, um dos acesso a comunidade, na Linha Amarela, na Zona Oeste do Rio. Casado há 21 anos, Marcelo Guimarães, que era marmorarista, deixa dois filhos, uma de 19 anos de idade e um de cinco.

Uma testemunha que gravou um vídeo logo após a morte também nega esta versão. Por volta de 12h30, moradores protestaram contra o crime fechando a via expressa, com barricadas. Carla esteve na Delegacia de Homicídios para prestar esclarecimentos após o assassinato. “Ele não era bandido, não gostava nem de cigarro, de beber. Trabalha há mais de 20 anos com mármore. Tiro no peito, meu Deus do céu, tiro no peito”, repetia a viúva.

“Só quero Justiça”
Marcelo era morador da Gardênia Azul, também na Zona Oeste, e tinha deixado o filho na escolinha de futebol. Ele passaria na Cidade de Deus para buscar a mala de ferramentas dele e, no caminho, foi surpreendido.

“Só quero justiça, só isso que eu quero. Eu não sei o que eu vou falar pro meu filhinho de cinco, falar que o pai dele foi viajar pra muito longe, nunca mais vai voltar”, disse Carla.

Confrontou os policiais
A mãe de Marcelo cobrou indignada Justiça pela morte do mais velho dos quatro filhos. Angélica Francisco Guimarães, 59, confrontou os policiais militares que estavam reunidos no local e cobrou respeito diante da morte do filho. Ao dirigir-se aos militares ela ressaltou que o filho não morreu por bala perdida, mas por “bala achada”. Angélica contesta a versão da PM de que houve confronto no local.

Uma testemunha que viu o momento em que Marcelo foi baleado afirmou que tiro partiu de dentro do blindado da PM. Segundo ela. dois policiais do 18º BPM (Jacarepaguá) estavam presentes na hora que o projétil atingiu a vítima.

“Eles entraram no caveirão segundos antes de o Marcelo passar de motocicleta. Eu vi o momento que a arma saiu e o disparo foi feito. Acertou em cheio no peito do Marcelo. Ele acabou sendo atingido, mas a bala poderia ter me acertado se ele não estivesse ali”, conta a testemunha, que agora teme pela sua vida.

Segundo a testemunha, após ser baleado, Marcelo chegou a pilotar a moto por alguns metros antes de cair. Ela tentou ajudar, mas já não tinha o que fazer. Tão logo o disparo foi feito, de acordo com a testemunha, o blindado da PM deixou o local.