Marcelo Bretas é acusado de negociar penas e influenciar nas eleições para governo do Rio

Juiz

O Juiz Marcelo Bretas, conhecido pela atuação na Operação Lava Jato no Rio, é acusado de relevante imparcialidade na condução dos processos. Em um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR), o advogado criminalista Nythalmar Dias Ferreira Filho revelou que Bretas negociava penas, combinava estratégias e direcionava acordos com o Ministério Público durante a operação. As informações foram reveladas com exclusividade pela Revista Veja nesta sexta-feira.

Segundo a reportagem, Nythalmar apresentou a PGR um áudio no qual Marcelo Bretas conta sobre um acordo com o então coordenador da Lava Jato no Rio, Leonardo Cardoso, para ‘aliviar’ a pena do empresário Fernando Cavendish, ex-dono da Delta Construtora. O intuito do áudio era fazer com que o advogado convencesse o empresário a confessar o crime em troca da redução da pena. Na época, Nythalmar representava Cavendish.

“Você pode falar que conversei com ele, com o Leo, que fizemos uma videoconferência lá, e o procurador me garantiu que aqui mantém o interesse, aqui não vai embarreirar” disse o juiz na gravação.

“E aí deixa comigo também que eu vou aliviar. Não vou botar 43 anos no cara. Cara tá assustado com os 43 anos”, completou Bretas se referindo a decisão que condenou o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletronuclear.

Na ocasião, a influência de Marcelo Bretas funcionou e o empresário Fernando Cavendish assinou um acordo de delação premiada. Além de confessar o pagamento de cerca de R$ 370 milhões em propina, o empresário recebeu a chance de responder ao processo em liberdade.

“O diálogo demonstra claramente que o juiz não só tinha ciência das colaborações antes de serem fechadas, bem como participava, negociava e intermediava com a ciência, participação e cooperação do MPF nas investigações, fato este gravíssimo”, afirmou Nythalmar.

Ainda segundo o advogado, Bretas teria feito um acordo com o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, no qual ele garantia não investigar a esposa de Cabral, Adriana Ancelmo.
Influência nas eleições

De acordo com o delator, nas vésperas das eleições de 2018 para o Governo do Rio, Marcelo Bretas vazou o depoimento de um ex-assessor do atual prefeito Eduardo Paes (PSD) que o acusava de envolvimento em fraude de licitações e recebimento de propina. Essa seria uma tentativa do juiz de prejudicar o então candidato a prefeito para apoiar o ex-governador do estado, Wilson Witzel.
Nythalmar relatou, ainda, que Paes teria feito um acordo com Bretas e, caso fosse eleito, iria nomear a irmã do juiz para uma secretaria “em troca de não ser perseguido”.

Gilmar Mendes
Os procuradores da Lava Jato, segundo o advogado, estavam tentando afastar do cargo de relator dos casos da operação que envolviam o Rio o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, por isso o grupo teria tentado a transferência da investigação para São Paulo. Assim, abririam o “caminho, na visão deles, para a Lava Jato de São Paulo ocorrer no Rio de Janeiro com mais tranquilidade, sem ser tolhida ou vigiada pelo ministro Gilmar Mendes”.

Caso a delação seja homologada pela Justiça, a operação deve ser alvo de um novo julgamento como o do Juiz Sergio Moro, que foi acusado de imparcialidade na condução na condução da ação penal que culminou na condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção passiva e lavagem de dinheiro referentes ao triplex em Guarujá (SP).