Lutador morto pela PM é enterrado sob clima de revolta; governador diz que se policiais erraram, serão punidos

O jovem estava no bar com amigos quando teria sido baleado por policiais militares

Vaneuci Ferreira de Amorim (c), pai de Vítor, ampara o treinador Romildo de Lima, conhecido como mestre Romildo, no sepultamento do filho/Fábio Costa/Agência O DIA/Reprodução 

Vítor (c) era lutador de boxe e muay thai/Reprodução 

“É uma pessoa maravilhosa. Isso aqui que vocês estão vendo no meu peito aqui sabe o que é? Era o sonho dele. Ele é lutador. Nunca perdeu uma luta. Perdeu agora uma luta, me desculpe as palavras, para os canalhas”.

O desabafo foi feito pelo pai do lutador de boxe e muay thai Vítor Reis de Amorim, morto aos 19 anos, na noite da última terça-feira. O jovem estava no bar com amigos quando teria sido baleado por policiais militares, no Morro da Jaqueira, no bairro Patronato, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio. A corporação nega e diz que Vítor foi atingido durante um fogo cruzado com bandidos. Os policiais faziam patrulhamento quando foram atacados, e houve confronto.

O corpo foi sepultado na tarde de ontem, no cemitério São Miguel, em São Gonçalo. Segundo Vaneuci Ferreira de Amorim, seu desejo é provar que o filho não era bandido. “Eu quero provar que meu filho não é bandido e eu vou até o final por causa disso. Eu não quero dinheiro, não quero nada, mas quero provar que meu filho não era bandido”, disse em entrevista ao jornal ‘O DIA’.

A família conta que policiais chegaram atirando, e que Vítor correu pra tentar se abrigar, quando foi atingido. “Quem escuta um tiro vai correr. Minha esposa foi lá, porque na hora eu estava trabalhando, e eles humilharam a minha esposa ainda. Bateram na minha esposa. Empurraram minha esposa assim. Minha esposa queria ver ele lá porque minha esposa não sabia que ele estava baleado”. Vítor foi levado para o pronto-socorro de São Gonçalo já sem vida, pelos próprios policiais militares.

‘Demos um tirinho nele’
O pai do jovem diz que, ao chegar na unidade, os agentes ocultaram que o rapaz estava morto. “Aí eu cheguei aqui encontrei com eles. Me avisaram e eu vim para o pronto socorro. Com os policiais. E falei: ‘Meu amigo o que aconteceu aí?’. E eles me enganaram: ‘Não, nós demos um tirinho nele e pegou no ombro’”.

A Polícia Civil informou ontem ue recolheu às armas dos policiais militares que participaram da ação que resultou na morte de Vítor. Disse ainda que os PMs e a família vão prestar depoimento. Os agentes buscam testemunhas que possam ajudar a esclarecer os fatos. A Corregedoria da Polícia Militar também analisa o caso. As investigações estão a cargo da 73ªDP (Neves).

‘Se errou, será punido’, diz governador
O governador do Rio, Cláudio Castro, disse que somente a investigação poderá dizer se os policiais erraram ou não. “Eu não comento investigação. Já tá na Polícia Civil. Nossa polícia é a polícia que mais pune aqueles que não fazem bem-feito, que erram. Se errou, será punido. Mas eu nunca condeno antes do devido processo, minha postura continua essa. Eu sou favorável à polícia, sempre, respeitando que a pessoa não pode cometer um excesso. Se errou, será exemplarmente punido. Se não errou, não vai ter condenação antecipada do policial”, disse Cláudio Castro.