Jovens mortos após abordagem policial em Belford Roxo são sepultados

Morto-02 - manchete (2)

 

Câmera registra a abordagem agressiva feita pelos PMs a Edson Arguinez Junior  e Jordan Luiz Natividade/Reprodução 

Câmeras de segurança registram momento em que policiais do 39º BPM atiram nas vítimas que estavam em moto

O juiz de plantão decretou a prisão dos policiais militares que realizaram a abordagem a dois jovens encontrados mortos em Belford Roxo. O cabo Júlio Cesar Ferreira dos Santos e o soldado Jorge Luiz Custódio da Costa tiveram as armas apreendidas. O crime tem um agravante: eles não informaram ao comando do 39º BPM (Belford Roxo) sobre o ocorrido.

Edson Arguinez Junior, de 20 anos, e Jordan Luiz Natividade, 18. apareceram mortos depois de uma abordagem feita pelos PMs na madrugada do último sábado. Imagens mostram os agentes atirando em direção as vítimas em uma moto. Em depoimento, ambos negaram ter feito qualquer disparo. Os policiais foram presos em flagrante após vídeos serem obtidos pela Polícia Civil.

Imagens incriminam PMs
Nas imagens registradas por uma câmera de vigilância, é possível ver que um dos PMs atira em direção aos dois jovens que passam de moto e caem. O outro policial desfere um chute nas costas de um deles. Logo depois,um carro branco que estava parado atrás do da polícia deixa o local.

Um policial leva um dos jovens para o outro lado da rua. O outro se arrasta para o mesmo lugar. Os policiais interrogam as vítimas por alguns minutos. Um deles desaparece da imagem. Outra câmera mostra o momento em que os jovens são algemados e levados para a viatura. Os corpos de Edson e Jordan foram encontrados em um local distante do ponto onde foram abordados.

No carro dos policiais, a perícia encontrou o que acredita ser manchas de sangue no chão e no tapete do veículo.

Em depoimento, os dois policiais disseram que o piloto da moto perdeu o controle e eles caíram, e que não houve nenhum disparo. O cabo Júlio Cesar disse ainda que os rapazes foram algemados para levá-los até a delegacia e, por isso, o soldado foi dirigindo a moto com os dois algemados no banco de trás. Ainda em depoimento, os policiais disseram que uns 40 metros depois resolveram liberá-los porque concluíram que os abordados e a motocicleta não tinham problemas.

‘Covardemente assassinados”.
Os corpos dos dois rapazes foram sepultados ontem no Cemitério da Solidão, em Belford Roxo. O clima era de revolta e consternação entre amigos e familiares que estiveram presentes na cerimônia de despedida.

A mãe de Edson disse que o filho e a outra vítima, Jordan, não estavam fazendo nada ilícito no momento em que foram parados pelos policiais.
“Dois rapazes não podem andar numa moto só por que são pretos? Que isso? Onde a gente está? Alguém viu meu filho roubando? Ou fazendo alguma coisa ilícita? Meu filho não estava com nada, nem o colega dele. Eles foram covardemente assassinados”, afirmou Renata.

Em tom de revolta, ela afirmou que o sentimento é de que se tivessem tirado uma parte dela. Disse ainda que os jovens foram “covardemente assassinados”.

“A troco de que fizeram essa covardia com meu filho? Esses crápulas, que dizem que são policiais. Na verdade, não são nem seres humanos a meu ver. Tiraram um pedaço de mim. Olha quantas pessoas tem aqui, se meu filho fosse uma má pessoa, não teria nem metade de quem está aqui. Foram covardemente assassinados pelos policiais”.

Retranca – ‘Ação extremamente errada, diz porta-voz da PM
O porta-voz da Polícia Militar, major Ivan Blaz, disse que foi uma “ação extremamente errada”. “Infelizmente, esses jovens policiais colocaram suas carreiras em risco por conta de uma ação extremamente errada”, afirmou.

Em entrevista ao jornalismo da TV Globo, Blaz explicou que a área onde houve a abordagem é considerada perigosa pelo 39º BPM (Belford Roxo). Ele ressaltou que a condução do caso pelos policiais presos foi errada. “Quem tem um mínimo de conhecimento sabe que as abordagens nem sempre são perfeitas. É um momento tenso. Porém, a conduta na condução dessa ocorrência foi completamente errada. Não houve qualquer forma de comunicação para os seus superiores. E mesmo assim, mesmo se tivesse havido, por tudo aquilo que nós vimos, não era possível que essa ocorrência fosse ignorada”, avaliou.

Blaz ainda defendeu a comandante do 39º BPM, que, segundo ele, fez todo o trâmite para encaminhar o caso para a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF).

“Não há muito o que se avaliar. Eles já estão presos. Há de se destacar toda a proficiência da Polícia Militar, que, ao receber as mães no batalhão, puxou o GPS das viaturas, identificou a viatura que passou próximo ao local onde os corpos foram deixados, buscou em casa os policiais, recolheu suas armas, separou a viatura para a perícia”

“Me permita discordar, a gente pode observar o policial gesticulando e se colocando em frente à moto. As informações relativas a este momento em que eles entram na viatura e o momento em que eles aparecem mortos, isso é o foco da investigação da delegacia de Homicídios”, disse.