Gestão da saúde de Nova Iguaçu cheira a colapso

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Com problemas de superlotação no HGNI e denúncias no Samu e Maternidade Mariana Bulhões, Secretaria de Saúde respira com ajuda de aparelhos/Reprodução

A saúde de Nova Iguaçu, apesar de aparente calmaria, vive o caos em meio a uma gestão que beira ao colapso. Se em governos anteriores o quadro do paciente era grave, hoje ele respira com a ajuda de aparelhos. Nomeado pelo prefeito Rogério Lisboa para gerir a Secretaria de Saúde com a missão de reduzir problemas cruciais, como a superlotação no Hospital da Posse (HGNI) e na Maternidade Mariana Bulhões, o médico Manoel Barreto de Souza Oliveira Leite tem frustrado as expectativas.

Desde que assumiu a pasta, em junho de 2018, a piora gradativa na saúde do município aponta para a falta de perspectiva diante de problemas que se repetem. Logo no começo de sua gestão, o secretário teve que enfrentar a fúria de mães que perderam bebês durante o parto na Maternidade Mariana Bulhões. Pelo menos dois casos chamaram atenção da imprensa naquele ano e estão relacionados ao descaso no atendimento.

Uma das pacientes contou que tinha uma cesariana e uma laqueadura de trompas marcada, mas ao chegar para o atendimento na unidade os médicos mudaram o procedimento e decidiram pelo parto normal. Segundo a denúncia, a grávida teve muito sangramento na cirurgia, provocando a morte do bebê por problema respiratório.

Em trabalho de parto
O outro caso é o de uma paciente que relatou ter chegado de madrugada na Mariana Bulhões já em trabalho de parto. De acordo com a paciente, ela foi atendida por uma enfermeira mal-educada, que deixou seus nervos abalados. Outras futuras mães relataram o mesmo problema ainda enfrentado por quem busca atendimento médico na unidade.

Antes de morrer por Covid-19, enfermeira denúncia péssimas condições de trabalho 
Em maio deste ano, outra denúncia mostrou a ineficácia da Secretaria de Saúde em gerir crises. Funcionários do Samu de Nova Iguaçu decidiram reclamar das péssimas condições de trabalho. O problema teria ocasionado a morte de dois profissionais por Covid-19, provocada pela falta de EPIs (equipamento de proteção individual), imprescindíveis para quem trabalha na área da saúde.

Uma das mortes causou comoção. A técnica de enfermagem Daniele Costa, que se dividia entre os plantões na UPA de Austin e no Samu, morreu com o vírus. Mesmo doente, ela gravou um vídeo relatando as denúncias. “O Samu de Nova Iguaçu teve várias pessoas contaminadas, enfermeiros, técnicos, médicos, médicos que estão entubados, que tão lutando pela vida. Meus amigos da área de saúde, lutem pelos EPIs. de verdade, os EPIs certos porque eu tava trabalhando, estava me precavendo e está aí o resultado, né?”, disse a profissional.

Cenário de abandono
Ainda segundo a denúncia, mesmo temendo represália os profissionais do Samu não se calaram e descreveram a situação de abandono da base. “É muito sujo. A gente convive com muita barata, camas amarradas com cordinha, colchões rasgados, encanamento entupido. Tem dia que a gente não tem como tomar banho”, reclama um funcionário. Outro enfermeiro disse: “Aqui é o alojamento masculino. também sem ventilação, com um vão para o quarto das meninas. Com ventilador, sem janela que possa ventilar. Essa é a situação do quarto dos meninos. O quarto dos meninos ainda é um pouquinho maior que o das meninas”.

Para os profissionais é um trabalho importante. Entretanto, o serviço e a dedicação da categoria não tem sido valorizado pelo governo municipal.

Presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro (Coren-RJ), Ana Lúcia Telles Fonseca, foi enfática: “Condição local insalubre, sem ventilação adequada. Ausência de dispensário de sabonete para lavagem das mãos. Não tem sabonete. Enfim, uma serie de situações que a gente pontuou e encaminhamos para as autoridades competentes”, disse.

‘Furto’ de pertences no Hospital da Posse
Outra irregularidade envolve o Hospital Geral de Nova Iguaçu (Posse). Daiana Silva, que perdeu pai em abril, para a Covid-19, denunciou que os pertences de Cláudio José da Silva, ‘evaporaram’ da unidade. Os objetos não devolvidos (par de alianças, uma bermuda, uma camiseta, uma manta e um par de chinelos) foram alvo de um pedido na Ouvidoria do hospital.

A filha do paciente também denunciou que o Boletim de Atendimento Médico (Bam) afirma que Cláudio recebeu alta “à revelia” (quando o paciente decide deixar o hospital). “O boletim diz que meu pai teve alta por ‘revelia’, Isso é muito, muito cruel. Nunca pedimos para tirarem meu pai de lá. Muito pelo contrário. Isso nem vem me machucando, porque era a vontade de Deus, ele foi. Mas é uma revolta. (…)”, desabafou.

 

Reportagem: Antonio Carlos