Gaeco do MPRJ mira viúva de chefe de milícia morto pela polícia 

Adriano e Julia Mello: vida cercada de luxo e crime/Divulgação/Reprodução

O sargento Luiz Carlos Martins, o Orelha, assassinado em Realengo, era o braço direito do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, o Capitão Adriano (abaixo), morto em confronto com a PM/Reprodução 

O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) desencadeou ontem a Operação Gárgula para prender criminosos acusados de lavar dinheiro e movimentar recursos ilegais do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, o Capitão Adriano. Ele foi morto durante confronto com a polícia em fevereiro de 2020 na Bahia.

A viúva do paramilitar, Julia Emilia Mello Lotufo, foi alvo de um dos três mandados de prisão expedidos pela 1ª Vara Criminal Especializada da Capital. Ela é considerada foragida da Justiça. O soldado da PM Rodrigo Bitencourt Fernandes Pereira do Rego foi preso. Segundo as investigações, o militar era um dos “laranjas” de Adriano. O terceiro alvo seria o 2º sargento Luiz Carlos Felipe Martins, o Orelha, mas ele foi assassinado no último sábado, em Realengo, bairro da Zona Oeste do Rio. Ele seria o homem de confiança do miliciano na administração dos valores que seriam colocados para empréstimos a juros exorbitantes.

Queima de arquivo
Para o promotor Bruno Gangoni, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do RJ, é possível que a execução tenha sido queima de arquivo.

“A característica na execução parece ser queima de arquivo. Não tem como afirmar, mas às vésperas de uma operação como essa acontece uma coisa assim, é desconfiável. Tudo leva a crer que pode, sim, ter sido uma queima de arquivo”, comentou.
A Justiça também determinou o sequestro de R$ 8,4 milhões em bens, como um haras em Guapimirim. O Gaeco) também tentava cumprir 27 mandados de busca e apreensão, dois dos quais contra irmãs do miliciano. O órgão denunciou nove pessoas.

Crime de agiotagem
De acordo com o MP, Adriano comandava os denunciados na prática de crimes de agiotagem e lavagem de dinheiro em favor do miliciano. “Essas manobras visavam à ocultação e à dissimulação da origem do dinheiro ilegal obtido com os crimes perpetrados por Adriano”, diz o documento.

O MPRJ afirma ainda que a viúva de Adriano era a responsável pela contabilidade e pela gestão financeira dos lucros das atividades criminosas, como a liderança da milícia de Rio das Pedras. Júlia também controlava, segundo a denúncia, os valores destinados para empréstimos.

As investigações apontam que entre 2017 e o início de 2020, os nove denunciados, sob as ordens de Adriano, concediam empréstimos a juros de até 22%, utilizando-se de empresas de fachada. Uma dessas firmas era a Cred Tech Negócios Financeiros LTDA, da qual o PM Rodrigo Bittencourt, preso na operação, era sócio. A empresa de fachada movimentou, entre 1º de agosto de 2019 a 28 de abril de 2020, R$ 3,6 milhões.
Segundo as investigações, bens de quem acabava devendo à Cred Tech eram confiscados e passados para o nome de dois laranjas.

Milícia e consórcio de matadores
Ainda segundo o Gaeco, Adriano chefiava a milícia de Rio das Pedras e integrava o consórcio de matadores de aluguel conhecido como Escritório do Crime. No espólio do bandido constam restaurantes; postos de gasolina; cabeças de gado; cavalos de raça; áreas rurais; imóveis; e carros.

Todos bens adquiridos em diversas atividades: mortes por encomenda; grilagem de terras; construção ilegal de imóveis; agiotagem; exploração de caça-níqueis; cobrança de ágio na água e no gás, vendidos sob monopólio.