Funcionário de empresa de ônibus é alvo de milicianos que atuam em comunidades da Zona Oeste do Rio

Vítima registrou a denúncia na delegacia de Duque de Caxias (59ª DP)

 

Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como Orlando da Curicica, chefia milícia de comunidades da Zona Oeste do Rio/Reprodução

M.A.V, de 40 anos, enfrenta uma triste e perigosa realidade no Rio de Janeiro: o domínio de territórios por criminosos que impõem o medo e as próprias leis em diversas comunidades. Mas ele não está sozinho: milhares de moradores fluminenses têm a liberdade cerceada, ora pela atuação da milícia, ora pelo tráfico de drogas. Com efeito, essas falanges do mal ignoram a força do Estado e criam regras. E quem não se submete a elas, é condenado à morte.

Funcionário de uma empresa de transporte coletivo que atua na Zona Oeste do Rio, o coordenador administrativo e operacional tem sido alvo de ameaças por parte de milicianos do União do Parque Curicica. A comunidade integra um complexo de favelas que ficam incrustadas no entorno da garagem da União Transporte Interestadual de Luxo S/A (UTIL), que possui bases em outras regiões do Rio.

De acordo com M.A.V, na terça-feira da semana passada (18), ao sair da empresa já tarde da noite foi abordado por dois homens que estavam em uma moto, um deles portando um fuzil. Os criminosos teriam ido cobrar a chamada ‘taxa semanal’, uma prática corriqueira imposta pelos paramilitares a comerciantes e empresários da região.

Os bandidos estariam contando com informações privilegiadas sobre a rotina da vítima, como identificação e função, fornecidas por funcionários que residem nessas comunidades, mais especificamente motoristas, para coagir quem mora ou trabalha na região.

Alvo dos criminosos
Amedrontado, a vítima registrou queixa na 59ª Delegacia de Polícia de Duque de Caxias. De acordo com o relatado no registro de ocorrência, nas últimas semanas as ameaças se intensificaram. “Os milicianos da comunidade ao lado estão indo lá (na empresa) e exigem o pagamento de quantias semanais”, contou M.A.V, acrescentando que permanece o dia inteiro no trabalho e, na maioria das vezes, acaba saindo tarde da noite, ficando suscetível a qualquer ataque do bando.

Ainda segundo a vítima, no dia da abordagem, os dois criminosos, que estavam de capacetes, chegaram a chamá-lo pelo nome e sabiam sua função. “Foram cobrar a taxa semanal”, relatou, afirmando que os bandidos disseram que voltariam para cobrar a ‘dívida’. M.A.V disse que tentou buscar imagens do sistema de segurança do local para identificá-los, mas o ponto onde ele foi abordado não é monitorado pelos equipamentos.

Assassino de Marielle Franco é quem chefia a região de Curicica
A milícia que atua em Curicica é chefiada por Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como Orlando da Curicica (foto). Uma testemunha envolveu o miliciano e o também vereador Marcello Siciliano (PHS) nos assassinatos da vereadora Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes no dia 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, região Central do Rio.

Orlando também é acusado de mandar matar o presidente da União do Parque Curicica, Wagner Raphael de Souza, conhecido como Dádi, em 2015. Ele foi atingido por 12 tiros quando estava com uma mulher que, mesmo baleada, conseguiu sobreviver ao ataque e é a principal testemunha contra Orlando. Preso desde outubro de 2018, quando havia quatro mandados de prisão expedidos contra ele, incluindo um pela morte de Dádi, Orlando foi transferido do Complexo de Gericinó, na Zona Oeste, para o presídio federal de segurança máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte (RN).
Em junho de 2021, o juiz Walter Nunes da Silva Júnior, da Justiça Federal do RN, determinou o retorno do miliciano para o Rio.