ex-secretária de Saúde presta depoimento na PF e pode entregar esquema na Prefeitura de Japeri

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Ex-secretária Rozilene Moraes e Rafael Freitas: ligações mais que suspeitas/Reprodução

Quarenta e oito horas depois de ser afastada do cargo de secretária municipal de Saúde de Japeri, por suspeita de superfaturamento na compra de respiradores para tratamento da Covid-19 no hospital de campanha, Rozilene Souza Moraes dos Anjos prestou ontem depoimento na Delegacia de Polícia Federal em Nova Iguaçu.

Alvo de investigação pela aquisição dos equipamentos ultrapassados ao custo de mais de R$ 1,8 milhão, que extrapola o valor de mercado, Rozilene deve explicações pelas suspeitas de irregularidades em sua gestão de pouco mais de sete meses. Além da ordem de afastamento da então secretária, expedida pela 3ª Vara Federal de São João de
Meriti, os agentes da PF cumpriram outros quatro de busca e apreensão no município e em Nova Iguaçu.

Pode estourar ‘bomba
De acordo com uma fonte ouvida pela reportagem do Hora H, a ex-secretária estaria revoltada com a ordem de afastamento e teria confidenciado que não descarta uma delação premiada para evitar uma suposta prisão. Nesse suposto acordo com a Justiça, nomes como o do prefeito Cezar Melo (Cidadania) e o do ex-secretário de Saúde e candidato a vereador Rafael Freitas (PDT), que também é padrinho político de Rozilene, poderão ser citados.

No caso do prefeito, há suspeitas de que ele sabia da compra dos equipamentos com valor superfaturado. Já Rafael ainda teria poder de decisão na pasta que comandou até março deste ano, quando precisou se afastar após um incidente com arma de fogo.

Suspeitas na compra de testes de Covid-19
Além das suspeitas sobre a compra dos respiradores, a ex-secretária também estaria sendo investigada em um outro contrato: a aquisição de 10 mil testes de Covid-19. Pelo contrato, a Prefeitura pagou R$ 1,9 milhão. Os agentes da PF recolheram documentos para investigar possíveis irregularidades.

Ainda de acordo a fonte, existe a suspeita de um esquema que inflou o número de testes e criou ‘fantasmas’ para a realização do exame. Segundo o presidente da Comissão Temporária de Assuntos Relevantes – CAR/COVID-19, da Câmara Municipal, vereador Wesley George de Oliveira, o Miga DEM), esse contrato também é pauta de investigação do colegiado. As denúncias foram encaminhadas ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).

“A comissão enviou requerimento com pedido de instauração de processo administrativo disciplinar e de afastamento cautelar da secretária de Saúde, do controlador-geral, Evandro da Silva Soares, e seu irmão, Marcos Roberto, que é
subprocurador da Prefeitura, mas a prefeito Cezar Mello negou, alegando não existir irregularidades. Foi um argumento retórico”, afirma Miga.

Entenda o caso
De acordo com reportagem do portal G1, em junho deste ano, a Prefeitura decidiu construir um hospital de campanha (foto) para tratar dos doentes de Covid-19. O governo publicou no Diário Oficial uma dispensa de licitação para dois contratos com
a empresa EPN Manutenção e Venda de Equipamentos Médicos.

Um dos contratos, no valor de R$ 1, 270 milhão, foi para a compra de respiradores. Entretanto, o documento não especifica a quantidade de equipamentos. O outro contrato, com custo de R$ 537 mil, foi para aquisição de bombas infusoras e
equipamentos, também não especificados.

Ainda segundo a reportagem, no endereço onde a empresa está registrada, existe uma casa. No imóvel, moram Elvis Policarpo Neto e a mulher, Allethea Policarpo. O casal está registrado como sócio da empresa, embora os vizinhos desconheçam a empresa no local.

Em entrevista ao portal, Elvis confirmou a existência do contrato, mas não soube dizer nem quantos respiradores teriam sido comprados. “Olha, isso daí eu passei uma procuração para um rapaz comprar, mas na verdade a venda não foi nem concretizada ainda porque eu ainda não recebi nada, não recebi dinheiro”, disse.

ERRATA
Na reportagem da edição de ontem, o Hora H errou ao publicar a foto de uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) contra o tráfico de drogas em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense.
A imagem não tem qualquer relação com a operação da Polícia Federal que cumpria mandados de busca e apreensão na Secretaria de Saúde de Japeri. Pedimos desculpas aos leitores.

Reportagem: Antonio Carlos