‘É uma ferida que não vai se curar’, lamenta pai de jovem morta na Vila Aliança

1ynpumqbrxqjv26mzc8wdyy07

Pelo menos 100 pessoas, entre parentes e amigos, compareceram ao enterro de Lorraine Xavier de Araújo, de 18 anos, morta por bala perdida, na Vila Aliança, na Zona Oeste do Rio. O sepultamento acontece na manhã desta sexta-feira no cemitério do Murundu, em Realengo, também na Zona Oeste. No momento em que ela foi atingida, havia operação da Polícia Militar na região e houve tiroteio com traficantes. Várias pessoas estavam com camisas com a foto da jovem.

O pai de Lorraine, o motorista do BRT, Antenor Marcondes, de 43, está inconsolável. “Mesmo separado da mãe dela há seis anos, meu contato com Lorraine era diário. Tiraram um pedaço de mim. A força que vou ter agora é porque ela me deixou uma neta. Tenho outra filha de 15 anos e ela que vai me ajudar a superar isso. É uma ferida que não vai se curar jamais. Vou tentar me adaptar a essa relaidade”, desabafou ele, que teve apoio de vários colegas de profissão durante o enterro. Antenor contou ainda que o sonho da filha era fazer Engenharia Mecânica e se preparava para o Enem.

Entre os amigos, estavam o diretor da escola onde ela estudava, a Escola Estadual Marieta da Cunha, na Vila Aliança, professores e colegas do colégio. “Conheço a Lorraine há cinco anos. Era muito esperta e alegre. Nunca falou da violência. Ela que alegrava nossa turma. Em homenagem, eu e minha colega fizemos camisas com a foto dela. Um dia ela me perguntou se eu faria o Enem esse ano, mas como tenho outros projetos, disse que não”, contou o amigo Paulo Ricardo Vieira Dutra.

Tiroteios na Vila Aliança são rotina na região. Tanto que na escola onde Lorraine estudava tem uma sala que se chama ‘Jesus te chama’ porque é constantemente atingida por tiros e está cheia de marcas de bala. A denúncia é do professor de Física da unidade Alessandro Gomes. Ano passado, os professores e alunos da escola promoveram até um curso de sobrevivência para aprender a se proteger da balas perdidas.

“É comum ter operação lá. Quando tem operação tiramos os alunos da sala ‘Jesus te chama’ que fica de frente pra rua e é muito comum ser alvo de tiros. Ela está cheia de marcas de bala”, contou Alessandro. “Demos um curso de sobrevivência ano passado na escola para aprendermos a tirar os alunos da linha de tiro”, disse Edno Soares, de 53 anos, professor de Matemática. Alessandro disse que Lorraine tinha planos para o futuro. “Era excelente aluna. Perguntava tudo sobre vestibular e universidade. Ela queria fazer algo além da escola. Estava juntando dinheiro para a inscrição para o vestibular”, lembrou o professor.