Disputa resolvida à bala: bandidos impõem medo nas eleições

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Liga da Justiça, maior milícia do RJ, impõe sua marca numa comunidade do Rio/Reprodução

Estado do RJ acumula denúncias sobre interferência de criminosos no pleito municipal .Esta semana, dois candidatos foram alvo de disparos,

A interferência de criminosos no processo eleitoral tem sido alvo de denúncias pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ). São cerca de dez por dia, segundo o juiz Luiz Márcio Pereira, coordenador de fiscalização da Corte. Ele acrescenta que a maioria das denúncias envolve milicianos. “Temos recebido mais denúncias ligadas à atuação de milicianos do que do narcotráfico”, explicou.

Em entrevista ao portal G1, o magistrado disse que em outubro foi possível constatar um aumento do número de denúncias, fato atribuído por ele ao acirramento das campanhas nas ruas e à flexibilização das medidas de isolamento social para conter a Covid-19. Pereira afirma que não é possível afirmar se milicianos têm mais interesse no processo eleitoral do que os traficantes de drogas. Entretanto, é preciso ter “cuidado” ao avaliar crimes envolvendo “figuras ligadas à política”.

O juiz esclareceu que toda a parte de investigação criminal está sendo avaliada em parceria com as polícias Civil e Federal, além do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ). Crimes contra candidatos e cabos eleitorais durante o pleito deste ano direcionam as suspeitas para a motivação política

Candidato a vereador foi alvo de tiros
Os atentados não param. No último sábado, Erick Saboia, candidato à Câmara Municipal de Duque de Caxias, foi atacado a tiros na BR-040, na altura da Reduc. Segundo informações, um veículo se aproximou e um dos ocupantes efetuou três disparos que acertaram o carro onde estava o político. Erick e o motorista não ficaram feridos.

Na 60ª DP (Campos Elíseos), onde o caso foi registrado, Erick afirmou ter sido vítima de “um atentado”. “Estou bem, apesar do atentado contra a nossa vida”, disse. “Tentaram nos calar, mas vamos continuar na luta”, emendou.

Na semana passada, outro ataque feriu o também candidato à reeleição no Rio, vereador Jair Barbosa Tavares, o Zico Bacana. Ele foi baleado perto de um bar na Zona Norte. E Renata Castro, cabo eleitoral ligada à candidatura do político Renato Cozzolino, em Magé, foi assassinada na porta de casa, horas depois de produzir um vídeo onde acusa o vereador Cleversom Vidal, o Clevinho (PCdoB) de ameaça-la de morte. A vítima estava na porta de casa, na Rua Florêncio Vidal, no bairro Fragoso, quando foi atacada.

Força-tarefa
A Polícia Civil montou uma força-tarefa para monitorar a influência de criminosos no processo eleitoral e tentar impedir os crimes e a interferência de bandidos no pleito. Os investigadores acompanham as atividades de 14 candidatos na capital e na Região Metropolitana.

Os investigados teriam relação com milicianos e traficantes de drogas que estariam restringindo a atuação dos candidatos nas áreas dominadas. Zico Bacana é um dos investigados pela polícia – o candidato nega qualquer relação com grupos criminosos.

Mais de 40 assassinatos em 4 anos
Segundo dados da Polícia Civil, desde as eleições de 2016, foram pelo menos 42 assassinatos de pessoas ligadas à política.

A execução da cabo eleitoral Renata Castro, em Magé, foi avaliado como um “caso grave” pelo coordenador do TRE-RJ. Segundo ele, a morte traz “instabilidade às eleições”.
“Ela ter ido à Polícia Federal na véspera e ter feito essa comunicação, declarar que vinha sofrendo ameaças, acaba dando uma conotação que precisa de uma avaliação mais cuidadosa e rápida para identificar os verdadeiros mandantes, porque é algo que realmente preocupa e traz instabilidade ao processo”, avalia.

Além da morte de Renata, a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) investiga as mortes de dois candidatos a vereador em Nova Iguaçu. Mauro Miranda, de 49 anos, e Domingos Barbosa Cabral, o Domingão (Democratas), assassinado no dia 10 do mês passado.

Domingão era irmão do policial militar André Barbosa Cabral, conhecido como Cabral, que foi preso em julho e é apontado como chefe de uma milícia que atua em algumas regiões de Nova Iguaçu. Domingão também foi preso na mesma operação. Para a Polícia Civil, a milícia de Cabral teria entrado em conflito com a milícia do Ecko. Uma das hipóteses é que a morte seria uma resposta do grupo rival ao irmão de Domingão.

Curral eleitoral
A Delegacia de Repressão às Ações Criminosas e Inquéritos Especiais (Draco-IE) investiga políticos suspeitos de obterem vantagens e exclusividade para fazer campanha em locais dominados pelo crime organizado. A especializada identificou casos na capital, em Belford Roxo e Itaguaí, na Baixada, além de São Gonçalo, na Região Metropolitana.

Até a última sexta-feira, a Polícia Civil já tinha ouvido três candidatos: Marcelo Siciliano (PP), que negou as acusações; Marcelo Diniz (Solidariedade), que concorre na Câmara do Rio; o Professor Lenine, que atua em Belford Roxo, além de dois assessores ligados ao último candidato.

O filho do traficante Marcinho VP, Lucas Nepomuceno, também foi ouvido sobre uma suspeita de acordo para garantir campanha de Marcelo Siciliano.

De acordo com a Justiça Eleitoral, as sanções para candidatos com participação comprovada nos crimes podem chegar até a perda do mandato e ter o diploma de nomeação cassado, não assumindo o cargo.

No dia 29 de outubro, um candidato a vereador em Belford Roxo foi preso por controlar o tráfico na comunidade do Roseiral. Segundo a polícia, o pastor Elisamar Miranda, caso fosse eleito vereador, tentaria ampliar os domínios da quadrilha, com influência em serviços públicos.