Dez corpos são encontrados no mangue de favela do Salgueiro

Moradores observam os corpos que foram retirados do mangue

Os corpos foram retirados pelos próprios moradores e envolvidos em lençóis brancos/Reprodução

Cartaz de procurado de Rabicó, chefe do tráfico do Complexo do Salgueiro/Divulgação/Portal dos Procurados

Moradores se depararam com os cadáveres horas depois de uma operação policial no último domingo/Reprodução

Moradores do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, encontraram dez corpos no último domingo em uma área de mangue da comunidade das Palmeiras, horas depois de uma operação da Polícia Militar. Pelo menos três dos mortos não tinham anotações criminais.

A dificuldade da retirada dos corpos seria tão grande que pessoas fizeram um mutirão. “Estamos precisando de homens, moradores que podem ajudar. Tem muito morto dentro do mato. Muitas pessoas reunidas, mas precisamos de mais”, pediu uma moradora nas redes sociais. “Muito conhecido da gente aqui morreu. A gente estava gritando no mangue para ver se consegue tirar, mas todos mortos”, relatou outra. “As mães estão entrando dentro do mangue. Com o mangue acima do joelho para poder tentar puxar os corpos”, continuou mais uma.

Rabicó chefia favelas
Segundo a PM, a quadrilha que domina as comunidades do Complexo do Salgueiro, chefiada por Antônio Ilario Ferreira, o Rabicó, se preparou para enfrentar o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais).

O sargento Leandro foi morto durante operação no Complexo do Salgueiro/Reprodução Redes sociais

‘Necessária’, diz porta-voz da PM sobre a ação

A Polícia Militar considera que a ação do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) no Complexo do Salgueiro cumpriu seu objetivo de cessar fogo. O tenente-coronel Ivan Blaz, porta-voz da corporação, disse que o Bope foi acionado logo após do sargento da PM Leandro Rumbelsperger da Silva, de 40 anos (foto), ser assassinado, durante um patrulhamento na região. A escolha do grupamento se deu pela região de mata onde ocorria os confrontos, além do abalo emocional da tropa do 7º Batalhão (São Gonçalo) que havia perdido um colega.

“Foi uma ação necessária. Quando a topa convencional não consegue resolver aquela questão, há necessidade de acionar uma tropa de operações especiais. No caso o Bope foi a tropa adequada naquele momento e terreno. Tinha a tropa do 7º Batalhão lidando com a morte de um companheiro de trabalho e emocionalmente envolvida. Então foram retirados totalmente do terreno para que outra tropa, mais habilitada para o confronto em área de mata fosse empregada.

Procedimento
A corregedoria da PM abriu um procedimento para investigar se houve algum desvio cometido pelos militares durante a ação. Agentes da corregedoria acompanham os trabalhos da perícia na favela, nesta segunda-feira. Moradores relatam haver marcas de tortura e ferimento a faca nos corpos dos mortos. A PM classificou essas informações como “especulação”.

“Não é a primeira vez que resultados que saltam os olhos suscitam esse tipo de especulação. Já tivemos operações na Maré, Jacarezinho e após o resultado com grande número de mortos alguém joga nas redes sociais essas acusações de tortura e ferimentos a faca. Para que tudo seja feito de forma transparente, a PM colocou a corregedoria no caso, após uma determinação direta do secretário. Estamos concedendo os recursos para a DH fazer o processo de investigação, além da perícia. É a perícia que sustentará a versão apresentada pelos policiais”, defende Blaz.

Questionado sobre a investigação da Polícia Civil, que apurará se houve algum erro dos policiais em não acionar a Delegacia de Hominídios após os confrontos, a PM diz que fez um registro ainda na noite deste domingo na 72ª DP (São Gonçalo) e que os secretários das pastas se comunicaram sobre a ação durante a ação do Bope.