Corpo de perito jogado de ponte no Rio Guandu é achado em Japeri, na Baixada Fluminense

O corpo de Renato Couto foi encontrado a 500 metros da ponte de onde foi jogado

O corpo de Renato Couto (abaixo) foi encaminhado para o IML, do Centro do Rio, escoltado por viaturas da Polícia Civil/Marcos Porto / Agência O Dia/Reprodução

Lourival e Bruno, pai e filho, donos de um ferro-velho na Mangueira/Reprodução

Cadáver Renato Couto estava a 500 metros do local. Ele foi morto após cair em emboscada dentro de ferro-velho na Zona Norte do Rio

Três dias após ter sido brutalmente assassinado, o corpo do policial civil Renato Couto Mendonça, de 41 anos, foi encontrado por bombeiros na manhã de segunda-feira (16) no Rio Guandu, a 500 metros da ponte do Arco Metropolitano, em Japeri, na Baixada Fluminense, de onde foi jogado pelos criminosos.

A informação foi confirmada por familiares do papiloscopista, morto por três militares da Marinha do Brasil depois de uma discussão em um ferro-velho, na Praça da Bandeira, na Zona Norte, na última sexta-feira (13).

Após reconhecimento, ainda às margens do rio, um colega do policial ajoelhou e chorou ao lado do corpo. Parentes da vítima, após reconhecerem o corpo, fizeram uma oração. De mãos dadas, eles rezaram o Pai Nosso.

O corpo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML), do Centro do Rio, escoltado por viaturas da Polícia Civil. Cerca de 30 agentes dos bombeiros atuaram nas buscas.

Após ser baleado, Renato teria sido colocado dentro de uma van da força militar e seu corpo jogado no Rio Guandu. O perito teria sido arremessado de uma ponte, próximo ao bairro de Engenheiro Pedreira. Um vídeo feito pela perícia mostra que a ponte ficou manchada de sangue; amostras foram coletadas.

Três militares da Marinha foram presos, na noite do último sábado, acusados da morte do papiloscopista. Eles foram identificados como sendo os sargentos Manoel Vitor Silva Soares e Bruno Santos de Lima, além do cabo Daris Fidelis Motta. O pai do sargento Bruno, Lourival Ferreira de Lima, também foi preso. Pai e filho eram donos do ferro-velho. Todos foram indiciados por homicídio qualificado e ocultação de cadáver.

Tentou cortar os pulsos
Na delegacia, na manhã de domingo (15), o sargento Bruno tentou cortar os pulsos após quebrar as lentes dos óculos que usava. Socorrido para o hospital, ele recebeu tratamento médico e retornou para a sede policial.

Durante a transferência para uma prisão da Marinha, no início da tarde deste domingo, os três militares usaram capacetes e coletes de fuzileiros navais, em cima da roupa civil, além de algemas. De acordo com os investigadores, o procedimento é um padrão da Força Armada para a transferência.

Vídeo mostra discussão entre o perito e o dono do ferro-velho
De acordo com um familiar, Renato foi até o local após saber que objetos de metal dele, que fazia uma obra na Mangueira, tinham sido furtados por usuários de crack e vendidos para esse ferro-velho. Um vídeo gravado por uma testemunha mostra a discussão entre o perito e o dono do ferro-velho horas antes do crime.

Na gravação, Renato aponta uma arma e grita para Lourival. Em alguns momentos, o papiloscopista bate no dono do ferro-velho. Segundo as investigações, Renato foi cobrar a devolução ou o ressarcimento do material pertencente a ele, que estava no local.

“Ajoelha, c*ralho”, grita Renato. “Não pode comprar produto roubado! Você me respeita!” Depois dessa discussão, ainda de acordo com a polícia, Lourival falou com o filho, o sargento da Marinha Bruno Santos de Lima, para resolver a questão.
A polícia afirma que, a partir daí, pai e filho arquitetaram uma emboscada. Bruno chamou dois colegas de farda, o cabo Daris Fidelis Motta e o terceiro-sargento Manoel Vitor Silva Soares, e combinou um novo encontro com Renato para a tarde de sexta, prometendo uma solução. Quando Renato chegou, ele foi rendido pelos quatro. Lourival seria sócio do filho, Bruno, no ferro-velho onde o perito encontrou produtos furtados de sua obra.
De acordo com a Polícia Civil, os agressores imobilizaram o perito com uma gravata durante a discussão. Após ser baleado, ele ainda teria sido agredido com chutes por Lourival Ferreira de Lima.

Tiro de misericórdia
De acordo com o delegado Adriano França, titular da 18ª DP (Praça da Bandeira), o exame cadavérico poderá ajudar a esclarecer em que região o disparo de misericórdia atingiu o papiloscopista. Já se sabe que pelo menos dois disparos acertaram o perito — um em uma das pernas e o outro no abdômen. No entanto, a testemunha que presenciou o crime relata ter ouvido três disparos.

“Uma testemunha disse que houve um tiro de misericórdia. Ela percebeu que (o disparo) foi no momento da entrada (do perito ) na van e teria sido feito pelas costas. Não sabemos em que região do corpo, se foi cabeça ou costas (que atingiu o tiro)”, disse o delegado.

Van foi levada para lava-jato em Nova Iguaçu
A Polícia Civil já descobriu que, após o corpo do perito ser jogado no Rio Guandu, os militares levaram a Van da Marinha para tentar apagar vestígios do assassinato.

“Sabemos que, após transportar o perito baleado, os militares lavaram a van da Marinha em um lava-jato de Austin, em Nova Iguaçu, usando inclusive cloro. Depois, lavaram mais duas vezes o mesmo veículo”, disse o delegado Antenor Lopes, diretor do Departamento Geral de Polícia da Capital.