Bateristas do rock brasileiro explicam o gênio Charlie Watts

Charlie Watts durante a música "Start Me Up" no MGM Grand Garden Arena em Las Vegas, EUA, em novembro de 2002/Ethan Miller/Reuters/Arquivo

“O Charlie Watts simboliza o conceito do baterista que toca para a música. Ele foi brilhante e teve papel fundamental nas obras-primas que os Rolling Stones deixaram para o rock.” João Barone, baterista do Paralamas do Sucesso, e Charles Gavin, ex dos Titãs, dois dos principais bateristas do rock brasileiro, explicam o gênio discreto de Charlie Watts, que morreu aos 80 anos na última terça-feira.

Gavin diz que entendeu melhor o que Watts significava para o rock quando tocou com o Ira!, entre 1982 e 1984. Na época, ele era fã de bandas surgi, mas os colegas Nasi e Edgard Scandurra eram fanáticos pelo rock inglês dos anos 60.

“É interessante: ao longo dos anos, como eu fui entendendo o quanto Charlie Watts era gigante”, lembra Gavin. Ele diz que, assim como Ringo, Watts “alcançou algo no instrumento muito difícil para todos os músicos, que é a lei básica do ‘menos é mais'”. “Ele é sinônimo de elegância dentro dos Stones. Cada um tem uma função ali, e a elegância, o requinte, dos Stones está exatamente no instrumento dele”, defende.

Gavin conta que encontrou Watts duas vezes. A primeira foi quando ele veio tocar com seu quinteto de jazz, em 1992. O comportamento do baterista condiz bem com o personagem. “Deram uma festa para ele em SP, ele apareceu e ficou exatamente 5 minutos. Foi muito engraçado. Deu ‘hello’ e foi embora.”

O segundo encontro foi maior. Em 2006, os Titãs tocaram na abertura do maior show dos Stones no Brasil, na praia de Copacabana. “Depois veio o convite para a gente ir encontrá-los no camarim no Copacabana Palace”, ele lembra. O baterista elogiou os ritmos brasileiros, lembra Gavin.

Barone acompanhou o trabalho de Watts também no jazz, e nota lá a mesma característica: “Mesmo nesse conceito jazzístico, ele não era um cara com arroubos de exibicionismo. Ele tocava os standards todos de uma forma elegante”.
E o futuro dos Rolling Stones? “Não sei se eles vão continuar fazendo shows com o Steve Jordan, que já ia substituir ele nessa turnê de outubro. Mas os Stones são maiores que eles mesmos. Talvez seja até um gesto nobre eles continuarem, como forma até de homenageá-lo”, opina João Barone.